Um ex-namorado alertou a médica sobre os riscos. Mesmo após o fim do relacionamento, ele a convenceu a revogar a procuração. Em 23 de outubro, ela enviou uma mensagem ao motorista pedindo que ele devolvesse o documento. Rafael fez uma cópia da procuração e decidiu assassiná-la. Na manhã do dia seguinte, levou Gabriela ao HRT e, por volta do meio-dia, os dois foram a uma agência bancária de Sobradinho, onde ela fez uma transferência eletrônica. No caminho de volta, Rafael alegou que precisaria pegar uma rota alternativa para evitar trânsito, disse ouvir um problema na roda e parou o carro em um ponto de ônibus.
Era o local de encontro com o comparsa. O desconhecido apareceu com uma faca anunciando assalto. Era uma simulação. O homem entrou no carro e mandou Rafael seguir em direção a Brazlândia, onde os dois concluíram o plano. Na confissão, o motorista afirmou ter ficado no carro, enquanto o comparsa levou Gabriela para uma mata fechada, onde a enforcou até a morte. Rafael disse ter pagado R$ 5 mil ao colega pela morte. Os restos mortais da vítima ficarão no Instituto de Medicina Legal (IML) por 30 dias até que o laudo pericial definindo a causa da morte fique pronto.
Como a prisão decretada foi temporária, por cinco dias, a decisão vale até hoje. Caso a 1ª Vara Criminal de Taguatinga não determine prisão preventiva, Rafael será solto à meia-noite. Em nota, o advogado de defesa, Cleyton Lopes, disse aguardar o oferecimento da denúncia por parte do Ministério Público. “Na hipótese da prisão temporária ser convertida em preventiva, a defesa pretende usar os mecanismos jurídicos disponíveis a fim de resguardar os direitos do suspeito”, informou o defensor, por meio de nota.
Ostentação
Rafael Dutra roubou ao menos R$ 200 mil das contas da vítima, após matá-la. “Estamos aguardando o afastamento bancário de mais duas contas. É possível que esse valor seja muito maior”, comentou o delegado Leandro Ritt. Segundo o Portal da Transparência, o salário da médica girava em torno de R$ 16 mil, mas ela tinha ainda mais dois contratos com serviços privados. Boa parte do dinheiro subtraído foi gasto em carros. Na segunda-feira, um Gol e uma Saveiro foram encontrados na casa do assassino confesso, no Itapoã.
Ontem, os investigadores apreenderam mais um veículo. Dessa vez, um Audi, em uma oficina de Sobradinho. Segundo Leandro Ritt, o carro seria modificado e estava com o motor desmontado. “A partir da veiculação das imagens do Rafael na imprensa, as pessoas começaram a identificar e fazer denúncias. É possível que mais (carros) apareçam”, observou o delegado.
Rafael gostava de mudar a estética dos veículos. Motores eram trocados por mais potentes e suspensões eram rebaixadas. Para a compra do Gol, ele fez três transferências bancárias de R$ 10 mil cada. De posse da procuração de plenos poderes, ele também vendeu uma residência da médica em Pirenópolis (GO) e o apartamento em que ela morava com a filha, de 8 anos, na Asa Norte. Também rescindiu os contratos com serviços privados prestados pela médica.
O advogado de defesa afirmou que a Saveiro foi adquirida após a morte de Gabriela “com dinheiro que (Rafael) recebeu durante meses de trabalho; uma boa parte, proveniente de outras rendas; não é fruto do crime. A investigação está se aprofundando com o objetivo de esclarecer a origem do recurso para a compra do Audi e do Gol. Não há documentos que conectem o suspeito aos veículos”, afirmou o advogado na nota oficial.
Para convencer amigos e familiares de que a médica estava bem, Rafael se passou por ela e enviou mensagens de WhatsApp dizendo que estava se internando em uma clínica para tratamento de depressão onde não poderia receber visitas e que retornaria no Natal. Como Gabriela havia se tratado uma vez, ninguém desconfiou a princípio.
Apesar de ser diretora do HRT desde março do ano passado, apenas em dezembro, quase dois meses após do desaparecimento, a Superintendência da Região de Saúde iniciou um processo administrativo para apurar a ausência da servidora. “O pagamento foi bloqueado no mesmo mês em que o processo foi aberto”, informou, por nota, a Secretaria de Saúde.
Fonte: Correio Braziliense