Ame os gatos, mas lembre-se da toxoplasmose

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Quem não se rende ao charme dos bichanos? Eles são fofinhos, dengosos ou ariscos, mas sempre encantadores e independentes. Mas essa fofura toda esconde um perigo para a saúde humana: a toxoplasmose. É uma doença muito comum no mundo todo e tem sua principal origem nas fezes dos gatos e a sua prevenção é simples: fazer a vermifugação dos animais e priorizar a higiene das mãos e alimentos.

A toxoplasmose adquire especial relevância para a saúde pública quando a mulher se infecta, pela primeira vez, durante a gestação, pelo risco elevado de transmissão vertical e acometimento fetal. Esses casos de notificação são de compulsória para o Ministério da Saúde.

Em 2017, foram notificadas 20 gestantes e em relação a toxoplasmose congênita, foram notificados 31 recém-nascidos. Cerca de 90% moravam na zona urbana. Já em 2019, o número de notificações de gestantes contaminadas pelo protozoário foi 103 – e 108 recém-nascidos. Também aumentou a porcentagem de infecção na área urbana, que chegou a marca de 93%.

A toxoplasmose é uma zoonose causada por um protozoário que se chama Toxoplasma Gondii. Esse parasita está presente na musculatura de uma série de animais – como cães, gatos, bovinos, porcos, equinos e até aves. O único animal capaz de transmitir – e  eliminar a forma infectante deste protozoário no meio ambiente – é o gato, por meio das fezes.

“E como o felino tem a característica de fazer as necessidades em locais de terra ou areia, as pessoas podem se contaminar fazendo atividades como jardinagem ou até plantando e colhendo alimentos onde esses animais utilizam como ‘banheiro’”, alerta o Rodrigo Menna Barreto Rodrigues, gerente Ambiental de Zoonoses.

Nos outros animais, como o parasita fica na musculatura, a contaminação acontece na manipulação ou ingestão da carne crua ou malcozida. “A orientação é não consumir a carne de procedência duvidosa e a forma de eliminar o protozoário da carne é cozinhando bem”, orienta o veterinário. Também é importante lavar bem as mãos e os utensílios e superfícies onde a carne foi manipulada.

Rodrigo explica, ainda, que na maioria das vezes os gatos adquirem o Toxoplasma Gondii ao caçar e comer pássaros, que carregam em seus músculos o protozoário. “Por isso, é importante manter os felinos sempre bem alimentados, para que eles capturem as aves mas não as comam”. Para evitar que os gatos tenham o protozoário no organismo é necessário fazer a vermifugação duas vezes por ano.

Sintomas
Os sintomas da toxoplasmose variam conforme o estágio da infecção. A pessoa infectada pela primeira vez não apresenta sintomas. Nos casos sintomáticos, geralmente leves, similares a uma de uma gripe, os sintomas podem incluir dores musculares e alteração nos gânglios linfáticos.

Em outros estágios, pode deixar sequelas nos casos de infecção congênita, quando transmitida das gestantes para os bebês; e toxoplasmose ocular e toxoplasmose cerebral em pessoas que têm o sistema imunológico enfraquecido, como transplantados, pacientes infectados com o HIV ou em tratamento oncológico.

Nos casos de baixa imunidade, podem aparecer sintomas mais graves – como febre, dor de cabeça, confusão mental, falta de coordenação e convulsões. Quanto às gestantes, o primeiro contágio durante a gravidez promove o risco de ter abortamento ou nascimento de criança com icterícia, macrocefalia, e crises convulsivas.

Diagnóstico
Nos exames de pré-natal está previsto o rastreamento sorológico para identificar gestantes suscetíveis à toxoplasmose e detectar precocemente os casos de infecção aguda recente, principalmente no início do primeiro trimestre, para instituir a orientação terapêutica que vai prevenir a transmissão fetal.

Uma dos exames que pode diagnosticar a toxoplasmose em recém-nascidos é o teste do pezinho (foto), procedimento incluído desde 2013 na triagem dos exames no Distrito Federal. O teste realizado no DF é capaz de identificar 30 doenças diferentes e deve ser feito depois das primeiras 48 horas de vida até o 5º dia.

Foto: Agência Saúde/Divulgação

A toxoplasmose congênita pode causar aborto e danos neurológicos e/ou oculares ao feto, incluindo a micro ou macrocefalia, hidrocefalia, calcificações cerebrais, retardo mental, estrabismo e convulsões.

“Muitas crianças ao nascer não apresentam manifestações da doença, desenvolvendo sequelas na infância ou adolescência, sendo a coriorretinite principal causa de cegueira em crianças com toxoplasmose congênita”, explica a enfermeira Rosa Maria Mossri, que atua na Área Técnica da Vigilância Epidemiológica das Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar.

A doença tem cura, mas o parasita permanece no organismo por toda a vida da pessoa e pode se manifestar em outros momentos. Ela pode aparecer na forma aguda ou crônica. A toxoplasmose não é contagiosa e não passa de uma pessoa para outra.

Tratamento
O paciente que tiver suspeita de contaminação pelo parasita deve buscar atendimento nas unidades básicas de saúde ao aparecerem os primeiros sintomas. As gestantes têm o acompanhamento durante o pré-natal recebendo todas as orientações necessárias pelas equipes de saúde. “O tratamento e acompanhamento da doença estão disponíveis, de forma integral, pelo Sistema Único de Saúde”, lembra Rosa Maria.

Um dos diferenciais do DF no tratamento da toxoplasmose é oferecer medicação para os recém-nascidos. Isso só é possível porque a medicação recebida do Ministério da Saúde é manipulada pela farmácia técnica do Hospital Regional de Taguatinga, permitindo o consumo da substância em dose adequada pelos pequeninos.

Vigilância Ambiental
O trabalho da Vigilância Ambiental se concentra na educação da população e na investigação – quando notificada pela Vigilância Epidemiológica. Equipe vai até o local informado e verifica se há presença de gatos para identificar se o local indicado pelo paciente é realmente o da contaminação. A área não realiza exame nos animais levados pelos donos até a zoonoses.

A toxoplasmose é uma das zoonoses mais comuns em todo o mundo. O Brasil apresenta uma das maiores taxas de prevalência, de acordo com relatório do Ministério da Saúde.

Mais de 50% da população em idade escolar e de 50% a 80% das mulheres em idade fértil apresentam anticorpos para a doença, ou seja, já foram expostos ao parasita em algum momento da vida.

A estimativa é de que entre 20% e 50% das mulheres estão suscetíveis à contaminação durante a gestação. Sem tratamento, a chance de desenvolver a doença congênita é de 44%, reduzindo para 29% quando tratada de maneira adequada no pré-natal.

Somente a partir de 2018 o Ministério de Saúde definiu protocolos e orientações técnicas para os estados sobre diagnóstico, notificação e tratamento da toxoplasmose, o que permitiu a identificação de mais casos.

Com esses protocolos, a Secretaria de Saúde do DF também pode emitir Nota Técnica sobre a doença e fortalecer as orientações para as equipes e unidades de saúde, reforçando a importância de notificar os casos, bem como o tratamento a esses pacientes.


Como evitar a toxoplasmose

  • Lavar as mãos com água corrente e sabão ao manipular alimentos;
  • Lavar bem frutas, legumes e verduras antes de ingeri-los;
  • Evitar a ingestão de carnes cruas, mal cozidas ou mal passadas, incluindo embutidos;
  • Evitar manuseio direto com solo, incluindo jardins, parques, caso seja necessário, usar luvas e lavar bem as mãos após a atividade;
  • Evitar o contato com fezes de gato;
  • Após manusear a carne crua, lavar bem as mãos e toda a superfície;
  • Não consumir leite e seus derivados crus, não pasteurizados;
  • A caixa de areia dos gatos deve ser limpa diariamente;
  • Use luvas e pás de lixo;


  • Alimentar os gatos com carne cozida ou ração (foto), não permitindo que eles façam a ingestão de animais caçados;
  • Lavar bem as mãos após o contato com os animais, sempre utilizando água corrente e sabão.

Com informações da Secretaria de Saúde/DF

FONTE: AGÊNCIA BRASÍLIA * | EDIÇÃO: RENATO FERRAZ

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