Por Laíse Horácio – Especial para o Mais DF Notícias
Nesta quinta (05/09), lançamento do livro póstumo da bióloga Ângela Maria Conte Leite que mostra que as citações bíblicas das plantas não poderiam ser interpretadas sem o significado místico inerente a cada uma, o qual traduz essa conexão Homem – Deus. Assim é, ainda hoje, o uso das plantas pelos povos tradicionais: uma ação humana conectada com a divindade.
Em setembro de 2006, o fatídico acidente do voo 1907 da Gol levou a óbito a saudosa Dra. Ângela Maria Conte Leite, uma das maiores botânicas do Brasil e uma defensora incansável pela preservação de sua amada Amazônia. Durante anos, ela se dedicou a escrever sobre a ciência, os animais e as plantas na Bíblia. Uma dessas obras, “Plantas Bíblicas:um tributo científico-espiritual”, depois de anos repousando no hd de um computador, finalmente será lançada nesta quinta (05/09), das 18h30 às 22h, no Carpe Diem restaurante (104 Sul).
Uma das filhas dela, Natália Lleras, foi quem obstinadamente perseguiu essa publicação. “No ano de 2003, minha mãe iniciou um processo de estudos onde seu maior objetivo era juntar o espiritual e seu trabalho ligado à natureza.
Levou anos lendo e estudando a Bíblia Sagrada, fazendo levantamento de todas as espécie de plantas e animais e suas funções espirituais e medicinais. Minha mãe amava a natureza. Tenho lembrança de minha infância de quando ela e meu pai passavam meses fora de casa fazendo pesquisa em campo. Me lembro que quando voltavam para casa sempre estavam felizes por todo aprendizado e a aventura que tinha no meio da Natureza. Eu os via como grandes aventureiros”, conta Lleras.
Ela continua emocionada: “A primeira faculdade que minha mãe entrou foi a de medicina, era ainda uma adolescente cheia de sonhos,mas ainda com dúvida sobre o curso. Foi uma das primeiras colocadas no vestibular, entrou ainda com 17 anos. Havia algo que ela gostava na medicina,mas realmente não era o que ela imaginava. Ela me dizia que gostava da “ideia de cura” que a medicina proporcionava. Mas que não era a Cura física que ela gostaria de aplicar e sim a Cura Espiritual e que também poderia ser pelos elementos da Natureza, da Mãe Terra. Cursou dois anos de medicina Na UFPA e logo depois pediu automaticamente a mudança do curso para Ciências Biomédicas. Entrou na parte da Biologia, conheceu a Botânica e se apaixonou pelas plantas. Estas sim seriam suas pacientes! E porque não essas pacientes tão especiais também poderiam curar aqueles pacientes humanos? “, indagou a filha.
Natália explica que no caminho de busca da espiritualidade, a mãe foi se sentindo cada vez mais conectada com a Mãe- Terra, essa mãe que proporcionou tanto alegria profissional nessa sua jornada de pesquisa.
“Professora Angela, Doutora Angela, minha mãe,minha “Raposa Velha”(apelido carinhoso que eu a chamava quando estava passando seus conhecimentos), amava passar seus conhecimentos para seus orientandos e seus estagiários. A minha “Raposa Velha” me passava seus conhecimentos Espirituais, Religiosos e Botânicos. Seu maior Sonho era poder contribuir por meio de seus conhecimentos e suas experiências nessa grande jornada da Vida. A publicação deste livro é de grande importância para mim e para minha irmã. Poder publicar agora esse grande presente espiritual, faz parte sem dúvidas de nosso processo de Cura e Espiritualidade aqui nessa Terra”, revelou Natália, que é fonoaudióloga.
“No dia 29 de setembro de 2006, por volta das 17 horas, sua missão aqui nessa Terra finalizou com um acidente aéreo que não deixou nenhum sobrevivente. Acidente esse que ocorreu na Região da Serra do Cachimbo, onde minha mãe esteve várias vezes pesquisando espécie de plantas. A Mãe- Natureza estava ai mais uma vez, não ensinado,mas recebendo desta vez o corpo daquela mulher, esposa,mãe,avó,pesquisadora,escritora…da Angela, da Raposa Velha! Mãe Amada, eu dedico esta publicação a ti e a todos que foram contigo aquele dia O mundo merece esse presente científico -espiritual que tu deixaste com tua dedicação e teu conhecimento. Dedico também a todos as pessoas que consideram as Plantas e Animais como um presente Divino, que devemos Amar, Preservar.respeitar e Cuidar”, pontuou Natália.
A obra
Segundo o prefaciador da obra, Philip Ferreira, biólogo e pedagogo, com especialização em Neurobiologia pela Universidade de Chicago, a contribuição da Dra. Ângela Maria Conte Leite é de suma importância para enriquecer ainda mais os estudos aplicados à Botânica. “As obras dela voltadas à conscientização da conservação dos recursos genéticos das espécies nativas da Amazônia servem como base para continuarmos seu belíssimo legado. Plantas Bíblicas busca trazer uma conexão direta entre o acreditar (religião) e o entender (botânica), e assim, fundir essas duas áreas que para muitos não se comunicam e se repelem ao serem debatidas. Para Ângela, a Ciência está nos olhos de quem a busca”, disse Ferreira.
A obra mostra que foi graças à intuição, atrelada à proximidade a Deus (Natureza, Força Cósmica, ou qualquer outro vocábulo capaz de expressar ou referendar uma Força ou Conhecimento Superior), que o homem aprendeu a viver no planeta Terra. Sem a intuição conectada à divindade, ainda hoje, que seria dos povos confinados no meio das florestas ou distantes de médicos, hospitais e farmácias, se sentissem mal estar e não pudessem apelar para o que eles têm disponível e de mais valioso que é a Natureza?
Para usar corretamente os recursos naturais disponíveis, em especial as plantas, o ser humano precisa estar conectado com essa Natureza, para conseguir captar Sua sabedoria, pois toda ela é uma dádiva ao homem. As citações bíblicas das plantas não poderiam ser interpretadas sem o significado místico inerente a cada uma, o qual traduz essa conexão Homem – Deus. Assim é, ainda hoje, o uso das plantas pelos povos tradicionais: uma ação humana conectada com a divindade.
Para descobrir quais plantas foram citadas em quais textos bíblicos, foi necessário ler a Bíblia por inteiro para entender cada capítulo, e só posteriormente inferir sobre o significado oculto de cada espécie vegetal encontrada.
A autora
Ângela Maria Conte Leitefez a graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Pará(1974), mestrado em Ciências Biológicas (Botânica) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia(1980) e doutorado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Pará(1997). Tinha experiência na área de Botânica. Atuando principalmente nos seguintes temas:Amazônia, Andiroba, conservação de recursos genéticos, Ecologia de populações, Espécies florestais e Etnobotânica.