‘Temos que criar um carnaval com a cara do DF’, diz secretário de Cultura sobre desfile fora de época

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As escolas de samba do Distrito Federal estão, há pelo menos quatro anos, sem desfilar pelas ruas da capital pela justificativa de falta de verba do governo para financiar o evento. Agora, a concorrência com os blocos de rua – que cresceram em quantidade e em proporção – também é vista, pelo novo governo, como um empecilho à ressurreição das escolas.

A alternativa apresentada pelo secretário de Cultura, Adão Cândido, é a criação de um carnaval fora de época. A ideia inicial, apresentada às agremiações na semana passada, é que o desfile esteja atrelado ao aniversário de Brasília, comemorado em 21 de abril.

Bloco Raparigueiros reuniu um dos maiores públicos do carnaval de rua do Distrito Federal — Foto: Agência BrasíliaBloco Raparigueiros reuniu um dos maiores públicos do carnaval de rua do Distrito Federal — Foto: Agência Brasília

Bloco Raparigueiros reuniu um dos maiores públicos do carnaval de rua do Distrito Federal — Foto: Agência Brasília

Segundo Cândido, o DF precisa fugir do senso comum de tentar copiar modelos tradicionais que funcionam, há décadas, em capitais como Rio de Janeiro e Salvador, e criar a própria identidade carnavalesca.

“Não podemos tentar emular o carnaval do Rio de Janeiro, porque ele é único e custa milhões – e ele mesmo está sendo posto em xeque. Não caberia nos cofres públicos do DF nem à economia criativa de Brasília.”

“Temos que encontrar a nossa forma de fazer o carnaval das escolas de samba.”

Integrantes de escola de samba do Distrito Federal — Foto: Toninho Tavares/Agência BrasíliaIntegrantes de escola de samba do Distrito Federal — Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília

Integrantes de escola de samba do Distrito Federal — Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília

Para a União das Escolas de Samba e Blocos de Enredo do DF (Uniesbe), a proposta de um carnaval fora de época não é ideal, mas pode ser a única alternativa no momento.”A ideia do secretário é trazer um número maior de turistas ao DF no período em que o foco não é mais o Rio ou São Paulo”, explicou o presidente, Geomar Leite.”Toda proposta que aparecer para melhor a nossa situação é bem-vinda.”O que ainda está no campo das ideias é a escolha da data. “Isso já vem sendo feito em outras cidades, mas em nenhuma é tão longe assim. É de uma semana a quinze dias de distância do carnaval”, acrescentou o presidente da Aruc, Moacyr de Oliveira Filho.Integrantes da escola de samba Aruc, do grupo especial do Distrito Federal — Foto: Pedro Ventura/Agência BrasíliaIntegrantes da escola de samba Aruc, do grupo especial do Distrito Federal — Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Integrantes da escola de samba Aruc, do grupo especial do Distrito Federal — Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília

“Não diria que está todo mundo satisfeitíssimo, mas as escolas não se recusam a discutir a hipótese de fazer em abril. Precisa é ser bem discutido.”

Os organizadores afirmam que o carnaval das escolas existe há mais de 55 anos e representa um “traço legítimo da cultura local”. O presidente da Aruc não esconde um sonho.

“O que a gente queria, mesmo, era a volta dos desfiles no carnaval, como sempre foi. Ainda que sob novo modelo, mais enxuto, com menos escolas. Colocar 20 escolas para desfilar está fora do atual contexto econômico”, diz Moacyr de Oliveira Filho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Com materiais reciclados, o bloco sustentável Patubatê também agitou o carnaval brasiliense — Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília

A Secretaria de Cultura informou que, após o carnaval, promoverá encontros com os representantes das escolas para debater possíveis datas para o desfile nos próximos anos. O governo também quer atrair investimentos da iniciativa privada, segundo Adão Cândido.

“Temos que trazer a iniciativa privada para que o nosso carnaval não seja um carnaval estatal.”

Dirigentes da Império do Guará mostram fantasias montadas em 2014, e acumuladas em barracão improvisado no DF — Foto: Alexandre Bastos/G1Dirigentes da Império do Guará mostram fantasias montadas em 2014, e acumuladas em barracão improvisado no DF — Foto: Alexandre Bastos/G1

Dirigentes da Império do Guará mostram fantasias montadas em 2014, e acumuladas em barracão improvisado no DF — Foto: Alexandre Bastos/G1

O presidente da Uniesbe, Geomar Leite, vê com bons olhos a captação de recursos fora do âmbito governamental, mas afirma que as escolas de samba teriam maiores chances com investidor se tivessem espaço para desenvolver suas atividades e mostrar do que são capazes.

“A gente vem, há mais de 30 anos, tentando receber aporte para fazer cultura o ano inteiro. A gente só consegue isso tendo um espaço, para mostrar para o empresário o que a gente faz pela comunidade e pela cultura popular.”

Por enquanto, como fica?

Enquanto o governo e as escolas de samba não entram em consenso sobre uma nova data para os desfiles, as agremiações serão incorporadas à programação dos blocos de rua – como ocorreu nos últimos dois anos.

Em 2017, pela primeira vez, as escolas se uniram aos bloquinhos. Na época, elas receberam R$ 300 mil. Já no ano passado, as agremiações foram concentradas em uma festa entre a Torre de TV e a Funarte no dia 2 de fevereiro.

Bloco de Carnaval Ásè Dúdú em Taguatinga, no Distrito Federal — Foto: Toninho Tavares/Agência BrasiliaBloco de Carnaval Ásè Dúdú em Taguatinga, no Distrito Federal — Foto: Toninho Tavares/Agência Brasilia

Bloco de Carnaval Ásè Dúdú em Taguatinga, no Distrito Federal — Foto: Toninho Tavares/Agência Brasilia

Agora, o GDF vai destinar R$ 325 mil às seis agremiações do grupo especial para que façam apresentações em eventos de grande concentração. A verba representa 8% do total destinado no carnaval, que será de R$ 4 milhões.

Segundo o presidente da Aruc, o acordo é que cada escola faça duas apresentações: uma em um bloco da região de origem e outra em um evento realizado dentro de um dos Setores Carnavalescos.

Serão “minidesfiles” com participação de bateria, mestre sala, porta bandeira, duas a quatro passistas e instrumentistas, explica o presidente da União das Escolas de Samba e Blocos de Enredo do DF.

Dançarina de frevo no bloco Virgens da Asa Norte, no carnaval de 2017 em Brasília — Foto: Adriano Machado/Divulgação BOADançarina de frevo no bloco Virgens da Asa Norte, no carnaval de 2017 em Brasília — Foto: Adriano Machado/Divulgação BOA

Dançarina de frevo no bloco Virgens da Asa Norte, no carnaval de 2017 em Brasília — Foto: Adriano Machado/Divulgação BOA

Do total investido no carnaval de rua, R$ 3,6 milhões vão custear 55 blocos de pequeno, médio e grande porte, entre 1º de fevereiro e 10 de março. A verba é destinada à infraestrutura, segurança, limpeza e cachê de atrações.

Os blocos contemplados são obrigados a aplicar, pelo menos, 5% do dinheiro recebido em ações de campanha contra preconceitos, pelo respeito ao corpo alheio, sobre ingestão de bebidas e segurança no trânsito.

Oferta de estrutura

Se, por um lado, a Secretaria de Cultura quer atrair investimentos da iniciativa privada, por outro, a pasta diz que pretende reforçar a supervisão quando o assunto é bloco de rua.

Foliões se uniram no Setor Comercial Sul para acompanhar o sexto ano de carnaval do Aparelhinho — Foto: Toninho Tavares/Agência BrasíliaFoliões se uniram no Setor Comercial Sul para acompanhar o sexto ano de carnaval do Aparelhinho — Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília

Foliões se uniram no Setor Comercial Sul para acompanhar o sexto ano de carnaval do Aparelhinho — Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília

A criação dos Setores Carnavalescos é um exemplo disso. Os espaços, que tradicionalmente abrigam alguns blocos consolidados, vão concentrar os principais equipamentos públicos de suporte, como segurança, banheiros e infraestrutura.

“Para nós, é mais fácil concentrar e dar atenção, com segurança e limpeza, que deixar esparramar e estressar todo o efetivo”, explicou Adão Cândido.

“É importante ter uma lógica, com conhecimento prévio, como acontece em Salvador e Recife. A espontaneidade se mantém, mas o governo tem uma previsibilidade para montar a estrutura.”

Baratona e do Raparigueiros reuniram cerca de 110 mil pessoas, no DF, no último dia do carnaval 2018 — Foto: Andre Borges/Agência BrasíliaBaratona e do Raparigueiros reuniram cerca de 110 mil pessoas, no DF, no último dia do carnaval 2018 — Foto: Andre Borges/Agência Brasília

Baratona e do Raparigueiros reuniram cerca de 110 mil pessoas, no DF, no último dia do carnaval 2018 — Foto: Andre Borges/Agência Brasília

Segundo o secretário, os Setores Carnavalescos não impedem que blocos de rua saiam em outras áreas. “Eles são uma oferta de estrutura, que vai estar lá pra ser usada. Cerca de 90% dos blocos aderiram. Quem quiser usufruir, é só colocar na agenda.”

Aqueles que desejarem fazer a folia fora dos setores, serão submetidos a uma análise técnica da Secretaria de Cultura, segundo Cândido.

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